Páginas

Quem sou eu?

Minha foto
Caicó, RN, Brazil
Professor de matemática atuando na rede municipal de ensino.

sábado, 19 de maio de 2012

Músicas para 'decoreba' perdem força na sala de aula


Minha vó, traga meu jantar: sopa, uva e nozes. O pedido pode soar estranho, ainda mais quando entonado em uma sala de aula. Essa, na verdade, é uma mnemônica, frase que se baseia em fórmulas simples para auxiliar na memorização de construções maiores - como, no caso acima, do nome dos oito planetas do sistema solar: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. O método, que por muito tempo ajudou estudantes na hora da prova, vem perdendo espaço em escolas e cursinhos pré-vestibulares, assim como versões de músicas. Agora, o foco é se aprofundar no conteúdo.

A exposição teórica tem roubado o espaço das estratégias mais objetivas. No caso do pré-vestibular Anglo, o uso de frases inusitadas e adaptações de músicas é evitado pelos professores. Segundo o coordenador pedagógico, Luís Ricardo Arruda, ainda que haja exceções, a instituição é contra a prática. "Saber é a capacidade de relacionar os conhecimentos, que devem estar ligados à compreensão, não à memorização. O aluno compreende pelo uso constante, não pela musiquinha", diz. O coordenador de pré-vestibular do COC - Franca, Paulo César de Barros, faz coro à afirmação de perda de força do método. "Resulta em memória de curta duração. Nós preferimos focar na resolução de exercícios para chegar a um conhecimento mais sólido e duradouro", destaca.

Barros observa, no entanto, que a técnica ainda é utilizada em sala de aula. "Alguns professores propõem a associação de conteúdo a músicas e frases. É um fenômeno forte também no ensino médio, principalmente no caso de exatas e tem uma finalidade específica, que é o vestibular", afirma.

As mudanças no vestibular, contudo, vêm exigindo que instituições revisem a maneira como passam o conteúdo a seus alunos. Se antes a tradicional "decoreba" tinha espaço, hoje, é preciso apresentar o contexto das situações, independente da disciplina. "Não é saber uma música que vai ajudar o aluno a resolver um problema. Se você pegar um exame da Fuvest, garanto que ninguém vai perguntar qual foi o dia da coroação de Carlos Magno. Isso não existe mais. Eles perguntam a importância dele naquela fase, e aí não adianta saber de cor. Isso não resolve a vida do aluno, apenas do professor, que dá a regrinha e, a partir daí, passa o problema para o aluno", afirma Arruda.

As exatas costumavam ser fonte de grande parte das frases e músicas que tomavam as aulas dos cursinhos, mas as mudanças das provas chegaram também a essa área. "Você não precisa mais saber a carga do elétron, a velocidade da luz e do som. Essas informações constam na prova, que normalmente vêm com formulário. A fórmula é o fundamento do assunto e, para que o aluno domine o tema, deve compreender o que faz aquela fórmula ser daquele jeito. De que adianta decorar frases sem compreender os significados?", questiona o coordenador pedagógico do Anglo.

Especialista aposta no método para dinamizar as aulas

Para a professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Cristiany Morais de Queiroz, a mudança na construção dos exames não deve extinguir o uso do método. Segundo a especialista, os professores precisam seguir buscando formas de tornar as aulas mais dinâmicas. "Sou a favor de ferramentas alternativas de aprendizagem, de permitir que o aluno aprenda na prática, tenha acesso a laboratório, consiga visualizar o conteúdo. Quanto mais prática, melhor para memorizar. Eu mesma tive um professor de Biologia que dava aula com música. Era um sucesso. Na hora da prova, as pessoas lembram da letra e isso as ajuda, porque faz parte do dia a dia", diz.

A professora defende a associação de conteúdos a assuntos dominados pelos estudantes. "Decorar datas, nomes de pessoas, lugares e mapas apenas por decorar não é tão duradouro. Fica para a prova. Mas fazer associações é algo válido. Quanto mais criatividade dentro da sala de aula, melhor. É importante utilizar o lúdico, as experiências que o aluno traz. Cada um chega com certo nível de aprendizado, e nós precisamos trabalhar isso", acrescenta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário