Minha vó, traga meu jantar: sopa, uva e nozes. O pedido pode soar estranho, ainda mais quando entonado em uma sala de aula. Essa, na verdade, é uma mnemônica, frase que se baseia em fórmulas simples para auxiliar na memorização de construções maiores - como, no caso acima, do nome dos oito planetas do sistema solar: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. O método, que por muito tempo ajudou estudantes na hora da prova, vem perdendo espaço em escolas e cursinhos pré-vestibulares, assim como versões de músicas. Agora, o foco é se aprofundar no conteúdo.
A exposição teórica tem roubado o espaço das estratégias mais objetivas. No caso do pré-vestibular Anglo, o uso de frases inusitadas e adaptações de músicas é evitado pelos professores. Segundo o coordenador pedagógico, Luís Ricardo Arruda, ainda que haja exceções, a instituição é contra a prática. "Saber é a capacidade de relacionar os conhecimentos, que devem estar ligados à compreensão, não à memorização. O aluno compreende pelo uso constante, não pela musiquinha", diz. O coordenador de pré-vestibular do COC - Franca, Paulo César de Barros, faz coro à afirmação de perda de força do método. "Resulta em memória de curta duração. Nós preferimos focar na resolução de exercícios para chegar a um conhecimento mais sólido e duradouro", destaca.
Barros observa, no entanto, que a técnica ainda é utilizada em sala de aula. "Alguns professores propõem a associação de conteúdo a músicas e frases. É um fenômeno forte também no ensino médio, principalmente no caso de exatas e tem uma finalidade específica, que é o vestibular", afirma.
As mudanças no vestibular, contudo, vêm exigindo que instituições revisem a maneira como passam o conteúdo a seus alunos. Se antes a tradicional "decoreba" tinha espaço, hoje, é preciso apresentar o contexto das situações, independente da disciplina. "Não é saber uma música que vai ajudar o aluno a resolver um problema. Se você pegar um exame da Fuvest, garanto que ninguém vai perguntar qual foi o dia da coroação de Carlos Magno. Isso não existe mais. Eles perguntam a importância dele naquela fase, e aí não adianta saber de cor. Isso não resolve a vida do aluno, apenas do professor, que dá a regrinha e, a partir daí, passa o problema para o aluno", afirma Arruda.
As exatas costumavam ser fonte de grande parte das frases e músicas que tomavam as aulas dos cursinhos, mas as mudanças das provas chegaram também a essa área. "Você não precisa mais saber a carga do elétron, a velocidade da luz e do som. Essas informações constam na prova, que normalmente vêm com formulário. A fórmula é o fundamento do assunto e, para que o aluno domine o tema, deve compreender o que faz aquela fórmula ser daquele jeito. De que adianta decorar frases sem compreender os significados?", questiona o coordenador pedagógico do Anglo.
Especialista aposta no método para dinamizar as aulas
Para a professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Cristiany Morais de Queiroz, a mudança na construção dos exames não deve extinguir o uso do método. Segundo a especialista, os professores precisam seguir buscando formas de tornar as aulas mais dinâmicas. "Sou a favor de ferramentas alternativas de aprendizagem, de permitir que o aluno aprenda na prática, tenha acesso a laboratório, consiga visualizar o conteúdo. Quanto mais prática, melhor para memorizar. Eu mesma tive um professor de Biologia que dava aula com música. Era um sucesso. Na hora da prova, as pessoas lembram da letra e isso as ajuda, porque faz parte do dia a dia", diz.
A professora defende a associação de conteúdos a assuntos dominados pelos estudantes. "Decorar datas, nomes de pessoas, lugares e mapas apenas por decorar não é tão duradouro. Fica para a prova. Mas fazer associações é algo válido. Quanto mais criatividade dentro da sala de aula, melhor. É importante utilizar o lúdico, as experiências que o aluno traz. Cada um chega com certo nível de aprendizado, e nós precisamos trabalhar isso", acrescenta.