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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Índia estuda medicina na UFMG para ajudar seu povo


 

Adana com o ator João Miguel após a filmagem de uma das cenas do filme Xingu
Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

A faculdade de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conta com uma estudante "diferenciada". Adana Kambeba é uma índia da aldeia dos Kambeba, na Amazônia, e ingressou na universidade como promessa para seu povo de que estudaria com a missão de ajudá-los no futuro.

Ela, que não quis revelar a idade, mas garantiu ter menos que 25 anos, contou em entrevista ao Terraque, quando se formar, voltará para Amazônia e ajudar seu povo: "Deixei meu povo na Amazônia com a missão de estudar para ajudá-los. Vou aprender sobre a medicina convencional e depois me aprimorar com os conhecimentos indígenas. Muitos medicamentos foram os índios que criaram, então é uma soma, na verdade. Quero trabalhar lá como médica ou pesquisadora. Faltam profissionais na área lá e gente que saiba falar as duas línguas, neste caso português e tupi amazônico".

Em relação aos colegas da universidade, Adana contou que eles se mostraram receptivos e curiosos sobre a cultura indígena: "O povo mineiro é muito receptivo e gosto muito quando alguém me pergunta sobre a nossa cultura. Os colegas e professores da Universidade sempre comentam comigo que tem avós descendentes de índios, querem saber como é a aldeia. E uma das minhas lutas é justamente essa, fazer com que as pessoas se interessem pelo assunto. Penso que todas as escolas deveriam ter matérias específicas sobre o assunto", disse.

Além de futura médica, a índia também é atriz e despontou recentemente ao interpretar a personagem indígena, no filme Xingu. O filme narra a vida dos irmãos Orlando, Claudio e Leonardo Villas Boas, que nos anos 40 do século passado desbravaram a Amazônia e tiveram contato com várias tribos indígenas.

Adana contou que somente participou do filme do diretor Cão Hamburger por insistência de uma amiga, que soube do teste para o longa-metragem: "Eu estava engajada em um movimento com meu povo e essa amiga me ligou pedindo que fosse até o Mato Grosso fazer um teste. Eu não queria e ela me ligava o tempo todo. Fui para ela parar de me ligar. Fiz o teste e três semanas depois me ligaram dizendo que eu tinha passado. Mas aí, antes de aceitar o papel, tive que conversar com minha mãe e com o cacique para pedir permissão. Eles analisaram a proposta do filme que tinha a ver com a luta do nosso movimento e aceitei. Gostei muito de ter participado desse filme, o pessoal foi muito atencioso. Era uma oportunidade pra falar do assunto, que é meio esquecido no Brasil".

Após três meses de gravações no ano passado, Adana veio para Belo Horizonte para iniciar a carreira acadêmica na UFMG: "Minha prioridade é me dedicar aos estudos e ao movimento do qual sou líder. Se eu conseguir conciliar tudo isso com a carreira de atriz, tudo bem. Nos últimos dias tem sido bem corrido, muitas entrevistas, mas sei que é passageiro. Por isso quero aproveitar agora pra divulgar mais sobre a cultura. Esse é meu objetivo", disse.

A índia revelou que também é cantora e compositora. Ela ainda traduz músicas populares brasileiras para o tupi-amazônico, língua do seu povo: "Sou líder do movimento indígena e o que eu mais queria é que as pessoas pudessem procurar informações sobre a cultura indígena. O Dia do Índio não é só hoje, é todo o dia. Somos guerreiros e por isso ainda estamos aqui, 500 anos depois. Fazemos parte da história brasileira e não podemos ser excluídos da sociedade", disse Adana, que na certidão de nascimento é Danielle Soprano Pereira. Ela nasceu em Manaus, no Amazonas.

Adana revelou que o seu nome foi escolhido pelo povo da aldeia e que faz parte de uma lenda indígena: "Adana foi a índia mais bonita da aldeia e que depois que morreu se transformou numa Ilha. Quando viva, dois guerreiros a protegiam, e eles viraram cachoeira - um de cada lado para continuar a protegê-la," explicou.

Ao fim da entrevista, a índia que tem o português como língua de origem, se despediu dizendo "kwekatú reté", "muito obrigada", em tupi-amazônico.

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